quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A-história-do-patrão-presidiário-com-musgo-nos-dentes




Alguns de vocês que lêem este blogue catita já me ouviram contar esta história. Agora, passados sete anos tem muita piada mas na altura ainda passei uns dias de pura irritação, apenas irritação e não humilhação (porque aqui está outra coisa fantástica, nunca me senti humilhada nos empregos pelos quais passei). Trabalhei numa editora cujos donos eram a mãe e o filho. O filho, intitulado director comercial, estava na altura em que entrei para a empresa, segundo a sua progenitora, nos Estados Unidos a tirar uma pós-graduação. Pensei eu logo que estaria numa empresa séria, assim capaz de ter directores comerciais a tirar cursos nos Estados Unidos. Há lá coisa mais chique?


Bom, a verdade é que passado pouco tempo de estar a pensar que aquilo ali era uma empresa chique descobri que era mais uma empresa choque. As empregadas-linguarudas não se fizeram esperar e assim que conseguiram puseram-me a par de todos os factos: o sr. XX (vulgo patrão-presidiário-com-musgo-nos-dentes) estava a tirar um curso sim senhor, mas um curso com uma nuance bem mais interessante, o curso de presidiário da Prisão do Linhó. Passo então também a saber que o senhor não dispõe mais do que a 4ª classe ( não tiro mérito a quem a tem) para exercer as suas funções de director comercial, portanto supus como seria difícil estar numa pós-graduação nos States sem passar pelo caminho normal para lá chegar.


Ora depois das linguarudas começarem a desenferrujar a sua ferramenta preferida (língua) contam-me horrores sobre o homem. Que fez parte de uma burla a uma conhecida marca de automóveis e que era por isso que estava preso à espera de julgamento, que o homem era intragável, que ninguém conseguia trabalhar com ele, que resumindo e concluindo era um completo anormal. Eu do alto dos meus sábios 26 aninhos (ai que verdinha) achei que comigo tudo ia ser diferente, que quando ele voltasse eu não ia ter nenhum problema com o senhor, nunca tinha tido nenhum problema com patrões ou chefes não ia agora começar nessa vida.


Esse dia aconteceu, ele foi absolvido (hoje com muita pena minha, porque sempre achei que fosse culpado). No dia em que bateu o pé naquela empresa apresentou-se a mim: Olá, eu sou o XX, sou o director comercial desta empresa, estive preso durante 1 ano e meio e depois de julgado fui absolvido. E ali fiquei eu de queixo caído a olhar para ele (ou melhor para o musgo dos dentes dele).


Para resumir um pouco a história e para que compreendam o quão difícil era trabalhar com o patrão-presidiário-com-musgo-nos-dentes posso dizer em minha defesa que trabalhei um ano com a mãe e apenas três meses com ele. Foi o que aguentei, uns míseros três mesitos, entre os quais ouvi alguns gritos não propriamente dirigidos a mim e em que vi ainda algumas pessoas serem despedidas. A empresa era de dimensão pequena (entre 10 a 15 empregados) e segundo as actas das linguarudas em quatro anos já por lá deviam ter passado umas 70 pessoas. Isto resume bem a coisa, não resume?
Pronto, hoje aqui vos deixo com esta história que dava um bom título para uma capa de livro do Luís Sepúlveda: "A história do patrão presidiário com musgo nos dentes"

1 comentário:

Neuza disse...

Não consegui controlar o riso!!! Muito bom...eu ia divertir-me muito a ler esse livro lol