EM LOUVOR DE AMY WINEHOUSE (e Vodkahouse e Whiskyhouse)
Começou, na passada sexta-feira, o Rock in Rio, o popular festival de música que se caracteriza por não ser de rock nem decorrer no Rio. Sob o lema por um mundo melhor, dezenas de artistas lutam, ao longo de dois fins-de-semana, para proporcionar um Mundo realmente melhor a todos os habitantes do resto do planeta e meia dúzia de dias infernais a quem reside a Chelas. Uma coisa são tiroteios entre vizinhos e a polícia, violências entre gangs na rua e tráfico de droga à descarada. Mas, porém, ao virar da esquina, o Rod Stewart a uivar à uma da manhã é um castigo que aquela gente não merece.
Nesta edição do festival, acompanhei, com especial interesse, o concerto de Amy Winehouse. Devo dizer que qualquer expectativa que eu pudesse ter foi superada. Além de lutar por um mundo melhor, Winehouse lutou, e muito, para se manter de pé. São dois combates em vez de um. Nem sempre conseguiu, é certo, mas fez um esforço heróico. À primeira vista, dir-se-ia que Amy Winehouse entrou em palco sobre a influência de mais que uma substância, sendo que o álcool talvez tomasse a dianteira. Tratando-se de um festival familiar, a actuação de Amy proporcionou divertimento para toda a família. “Eu acho que ela está bêbada. E tu, papá?” “Creio que não, filho. Repara como ela cambaleia. Isto é chinesa, e da boa.”Acima de tudo, foi um concerto que sublinhou, uma vez mais, a diferença que existe entre um bêbado deprimente e um grande artista. Ambos balbuciam coisas sem sentido e cantam, mas o que está à frente de um baterista e dois guitarristas é o grande artista.
Não quero com isto sugerir que Amy Winehouse não contribuiu para que o Mundo fosse melhor. Por um lado, toda a gente que já se entregou aos prazeres do álcool percebeu que, ao segundo ou terceiro copo, o Mundo parece, de facto, começar a melhorar. Agora imaginem quão bom é o Mundo de Amy Winehouse. É possível que a artista estivesse convencida de que se encontrava de facto, no Rio de Janeiro. É possível até que estivesse convencida de que aquilo que estava a fazer era cantar. Por outro lado, deve destacar-se a mensagem que Amy passou aos jovens. Os jovens, aparentemente, precisam muito de receber mensagens, e a generalidade das pessoas espera que sejam os cantores e as estrelas da televisão a enviá-las. Pois bem, a mensagem de Winehouse era clara e edificante: não consumam álcool nem drogas, pois receio que não sobrem para mim.
Há quem diga que estes concertos podem fazer muito para resolver a probreza no Mundo. Mas são artistas como Amy Winehouse que vão além da caridade e têm, de facto, uma intervenção macro-económica séria. A economia da Colômbia, por exemplo, está toda às costas da rapariga.
[RAP in Visão]
1 comentário:
MUITO BOM! Este Ricardo Araújo Pereira é grande, sem dúvida.
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