Nem que fosse vermelha às pintinhas amarelas, né?

De vez em quando, no comboio, acontecem-me estas coisas! Estação de Entrecampos, oito da noite, entro no comboio na última carruagem... Milhares de lugares vagos (estes milagres só se dão a estas horas, sim), dirijo-me para um deles onde o banco duplo já tem um ocupado por uma assídua da linha de Sintra. Estou quase a sentar-me, no banco ao seu lado, e assim, de repente, sem mais nem menos, alguém me faz uma finta e quando estou a centímetros do banco, ela passa-me à frente e ocupa o lugar, porque segundo entendi a pessoa que já lá estava era sua amiga. Meninos, aquilo caiu-me mal, muito mal! Começou-me a subir os calores pelo corpo acima e saiam da frente que lá vem lava! Virei-me para elas e vomitei as palavras (com muita calma).
-Vocês são muito mal-educadas, não são? Deviam ter vergonha, que gente mal-educada, francamente! (assim numa espécie de roda-a-baiana, mas sem cair totalmente do salto).
-Mal-educadas por quê? Eu já ia sentar-me, tá a chamar-me mal-educada porque sou preta é? (pronto, a coisa azedou)!
-Ó senhora nem que fosse vermelha às pintinhas amarelas. Vocês são mal-educadas porque são mal-educadas. (Depois saí dali enraivecida e tentando controlar-me não fosse jorrar mais algumas palavras impróprias e levasse uma bofa na boca assim como quem não quer a coisa).

Ora vamos lá ver uma coisa, não era que não houvessem mais bancos livres, nem que se me tivessem pedido com gentileza que não as deixasse ficar ali juntinhas no banco, mas ela correu literalmente à minha frente para apanhar o lugar e quase que me sentei no seu colo, tal não eram os poucos centímetros a que estava do banco. E depois chamo-lhes mal-educadas e dizem que lhes chamo isso porque são pretas! Oh god, valha-nos alguém para fazer entender esta gente que a educação nada tem a ver com raças!

Esta história assemelha-se um pouco à da minha amiga S. Um dia quando não aguentava mais a "kimzomba" de todas as galinhas que se encontravam dentro do mesmo autocarro que ela decidiu, após comer uma bananinha, atirar a casca da mesma para cima das moças (claro que não foi assim a melhor opção, mas às vezes perdemos a calma). A casca caiu em cima da cabeça de uma black, que pegou nela e veio ajustar contas com a minha amiga: Olha lá, tás a chamar-me macaca?
A verdade é que ela teve azar, podia ter sido a casca de outro fruto qualquer e podia ter caído em cima de outra qualquer! Mas o destino assim quis: era uma casca de banana e caiu em cima da cabeça da preta!